Morango do Amor: Quando o Desejo Inconsciente Vira Tendência Viral


Morango do Amor e os Desejos que Não Derretem


O “morango do amor” virou febre: aparece em vídeos com milhões de visualizações, brilha nas vitrines como uma joia comestível e desperta um desejo quase infantil. Mas por que será que um simples morango coberto por uma camada de açúcar desperta tanto fascínio?


A psicanálise tem muito a dizer sobre isso. O que parece ser apenas um doce pode, na verdade, tocar em camadas profundas do nosso inconsciente.


O desejo começa na boca: Freud e o prazer oral


Freud, pai da psicanálise, nos ensinou que uma das primeiras formas de prazer se dá pela boca. O bebê conhece o mundo através dela, encontrando no seio materno mais do que nutrição: vínculo, afeto, segurança. Essa experiência inicial deixa marcas. Quando adultos, muitas vezes buscamos, inconscientemente, esse prazer perdido, seja em cigarros, na fala compulsiva ou no comer emocional.


É aí que entram os doces. O “morango do amor”, com sua textura que estala ao morder e seu vermelho vivo, ativa sensações intensas que evocam fantasias de um prazer completo, imediato. Ele funciona como uma espécie de retorno simbólico à cena primordial do cuidado.


O doce como disfarce do desejo


Freud também nos mostra que nossos desejos mais intensos nem sempre são aceitos — por isso são recalcados, empurrados para fora da consciência. Mas o desejo recalcado não desaparece: ele retorna disfarçado em sonhos, lapsos, sintomas... ou em escolhas aparentemente banais, como a vontade repentina de comer um doce.


Comer algo chamado “morango do amor” não é apenas uma questão de gosto. Pode ser uma forma de satisfazer desejos inconscientes de carinho, erotismo, contato, amor. Um prazer permitido e socialmente aceito que alivia, ainda que brevemente, a tensão entre o desejo e a proibição.


Winnicott: o doce como refúgio emocional


Winnicott, psicanalista britânico, descreveu os objetos transicionais: como uma fraldinha ou um paninho, que ajudam o bebê a suportar a ausência da mãe. Esses objetos criam uma zona de conforto entre o eu e o mundo.


Na vida adulta, os objetos transicionais se transformam. Um perfume, um filme, uma música... ou um doce. O “morango do amor” pode funcionar como esse refúgio emocional: um instante de suspensão da realidade, que acalma, aquece e ocupa simbolicamente o lugar de algo perdido, ou nunca plenamente vivido.


Afetos protegidos por casquinhas


O nome "morango do amor" não é por acaso. Ele promete amor açúcarado, brilhante, idealizado., mas o amor real é como o morango fresco: doce, sim, mas também ácido. Pode escorrer, manchar, decepcionar. Quantas vezes fazemos o mesmo com nossos afetos? Criamos defesas, camadas sociais, máscaras, tudo para esconder o que há de mais vivo e frágil em nós.


Freud dizia que amar é também perder. Desejamos aquilo que nunca possuímos por completo.

Talvez o fascínio por esse doce venha disso: ele encena, de forma comestível, uma fantasia de plenitude que, no fundo, sabemos ser passageira.


Quando o desejo vira tendência


Não é coincidência que o nome do doce traga “amor”, essa palavra que todos desejamos, mas poucos sabem nomear ou sustentar. O morango do amor é doce, bonito, acessível. Ele encena uma fantasia de completude, de afeto sem conflito, de amor que não fere.


Colette Soler, relendo Lacan, afirma que o desejo humano nasce da falta. Desejamos aquilo que nos escapa. E uma tendência viral como o “morango do amor” talvez revele um desejo coletivo mascarado, uma tentativa de preencher, juntos, aquilo que cada um sente faltar em silêncio.


Em cada mordida, um símbolo


A psicanálise nos convida a olhar para além da superfície. O que comemos, escolhemos e desejamos fala de quem somos. Então, da próxima vez que você morder um “morango do amor”, talvez valha a pena se perguntar: o que, de fato, estou buscando aqui?


Deseja refletir sobre seus desejos, angústias e experiências?


No meu consultório, ofereço um espaço de escuta sensível e acolhedora, fundamentado na psicanálise. Cada pessoa é única, e seu processo merece ser respeitado em sua singularidade.


Se você sente que algo em você pede por compreensão, cuidado ou transformação, estou à disposição para caminhar ao seu lado.



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